terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Entre Elias e Acabe: Obadias, um nobre desconhecido.


“(...); eu, contudo, teu servo, temo ao Senhor desde a minha mocidade.” 1 Reis 18:12c
Entre idas e vindas, leituras e releituras da história do enigmático e porque não dizer também fantástico profeta Elias, o tesbita, deparei-me com um personagem igualmente (desigualdades à parte) fantástico e enigmático chamado Obadias. Se tenho aprendido muita coisa com o famoso profeta, tanto mais tenho aprendido com esse nobre “desconhecido”.
Ele aparece no meio de uma miséria sem precedentes em Israel, em meio a um reinado que nadava em todos os estilos do paganismo e, se não bastasse isso, era também um reinado onde cultuava-se a prostituição e onde brincavam de acha-mata-extermina-destroi os profetas do Senhor! Um mundo cão, posso assim dizer.
Sob o causticante sol, ventilemos um pouco sobre Elias, já deixando ladeado, de novo, o fiel Obadias. Perdão, Obadias!
Em 1 Reis 18, o até então desconhecido morador da região de Gileade, Elias, se apresenta ao rei Acabe e faz uma declaração meteorologia pra lá de ousada! Usei o termo desconhecido porque o cara simplesmente saiu do nada! As Escrituras não relatam nada antes desse aparecimento e quando este homem surge já é, globalmente, com ares de Patrícia Poeta dos tempos bíblicos com a sua previsão pra lá de assustadora! Disse o homem de Deus que não haveria sobre aquela terra nem orvalho, nem chuva por três anos e meio (1 Reis 18:1). Pense agora comigo: Ficar sem água por um dia é uma coisa; sem água por dois ou três dias é dois ou três “coisa”, mas três anos sem água? Dá não! Visione: Lavar talheres e pratos? Neca. Roupas? Neca. Passar um pano na casa? Neca. Beber água deixando derramar pelos cantos da boca? Neca. Lavar o rosto, banhar o corpo descentemente ou escovar os dentes? Eca, eca e mais um eca! Se não bastasse dar o aviso divino, o “proclamador da seca” depois de dado o recado ouviu o seguinte: Suma, Elias! Da mesma forma que surgiu, sumiu!
Foi-se a mando de Deus para Querite e lá ficou. Sob o cuidado do mesmo Deus foi sustentado por corvos e bebeu do riacho que ainda corria por lá (1 Reis 18:6), até que a corrente de água secou, “porque não chovia sobre a terra” (1 Reis 17:7). Será que ele achava que ia se dar bem nessa falta de água? Sobrou também, tesbita!
Deus então ordena que ele saia de Querite e vá para Sarepta (1 Reis 17:9). Eu fui dar uma googlada, procurando o que significa o nome Sarepta e o suor desceu só em ler! Casa de fundição é o seu significado. Era um lugar onde se derretiam metais, um local cheio de fornalhas! Será que o lugar era quente? E com a seca? Sobrou e sobrou forte, tesbita!
No forno de microondas da marca Sarepta Very Hot ele foi sustentado milagrosamente com pão e com água por uma mulher viúva, que morava com seu filho único. Imaginei duas coisas: que o pão se cozia nas mãos mesmo ou mais rapidamente na janela, onde o vento soprava de levinho; o outro pensamento é de que em Sarepta o milagre da transformação era constante, qualquer água nas talhas ou nos copos transformava-se em chá quente! Seriam de lá os gaúchos?! Lá não se usava o termo “cabeça de gelo” ou “fique frio”. Nunca! Acontece aqui o primeiro caso de ressurreição na Bíblia. Pelo que eu já li é isso mesmo! Me ajudem os estudiosos! Curioso, não? Morre, após algum tempo, o filho único desta pobre viúva e Elias clama a Deus para que torne a vida ao menino e assim acontece. Esse Elias tinha intimidade com o Criador e Pai da Vida!
Deus então ordena que Elias se apresente de volta a Acabe para dar-lhe outro aviso meteorológico (1 Reis 18:1) - dá-lhe Elias Poeta. O recado: depois de três anos e meio, daria o Senhor chuva abundante sobre a terra. Está aí a síntese do resumo resumido sobre o conhecido Elias, o profeta de Tesbe de Gileade. Lembrei agora que me propus a falar sobre Obadias e até agora necas, imagine!
Elias, obediente, sai à pé da flamejante Sarepta para se encontrar mais uma vez com o rei Acabe.
Refresquemos (como se fosse possível) o contexto climático naquela terra: três anos e meio sem chuva ou mesmo orvalho à noite, as reservas de água já acabadas ou por acabar; os animais, as crianças, as mulheres e os homens morrendo (e muitos já mortos, certamente). Sem água não há plantação, se não se planta, não se colhe; fome e sede, sede e fome. Vê-se a sequidão e desespero no rosto do poderoso Acabe, rei de Israel.
Precisamos de água! Acabe não confia em nenhum outro homem em seu reino, mas tão somente em Obadias - olha o homem aí! (1 Reis 18:5). Ordena a este a sair pelas terras desérticas à procura de água. Vale salientar que saem o rei e o mordomo Obadias, só (1 Reis 18:6). Quem sabe o rei tenha pensado: Se eu sair com uma comitiva, os espalhar sobre a terra a procurar água e estes acharem qualquer coisa, vão sair em desespero e acabar com o pouco que acharem e nada sobrará! Que nada! Vou sair só para um lado e para o outro vou mandar aquele em quem eu confio e que não vai me trair, o meu fiel servo Obadias! Obadias, onde está você?
Saindo de Samaria seguem o rei Acabe para lado sul e Obadias para lado norte.
Elias vindo de Sarepta, descendo pelo deserto, Obadias subindo pelo mesmo deserto, quando se encontram. Eita susto! Sinta, veja e viaje no calor da situação: no meio do tórrido deserto: o sol; embaixo do sol escaldante: um outro sol; um homem com o corpo cozido: o sol de novo; todo vestido de pelo e couro em brasa: o sol mais uma vez e agora ardendo; a barba grande e desgrenhada brilhando e fumaçando sob o sol; cabelo besuntado de areia e o sol fazendo a escova progressiva: suando toda a água que bebeu em Querite e o sol evaporando essa água; sem Rexona e o sol agravando em muito a situação; soltando mornos bufos de cansaço depois de descer e subir morros e vales acompanhado ainda do sol: rodeando-o o amigo sol; aquele vento quente soprando igual a vapor de ferro de passar... Deus dos céus chuvosos! Vou aqui tomar uma água gelada e volto! Vai amar fazer a vontade de Deus assim, lá em Israel! Agora eu entendi o porquê de Elias estar ao lado de Cristo na transfiguração, só Jesus Cristo para dar alívio aquele profeta! Momento oração sincera: dá ao que escreve e aos que estão lendo este texto esse mesmo ardor por cumprir a Tua perfeita e agradável vontade, Senhor! Se fôssemos como Elias, no cumprir a vontade de Deus, o mundo teria muito mais vidas salvas e sedentas por beber da Água Viva. Você pode dizer Amém? Eu disse, viu? Acho que se eu visse Elias nessas aquecidas condições o confundiria com a sarça ardente e tiraria as sandálias. Fogo puro!
Provavelmente Elias estava também à procura de água, afinal o profeta era de Deus e não Deus! Obadias o vê e o reconhece! Aqui reaparece o homem que me despertou uma atenção especial em toda essa história. Obadias, o servo e mordomo do rei Acabe.
Começando pelo segundo, lê-se em 1 Reis 16:30 que ele fez “o que era mau perante o Senhor, (...)”. Se isto já não fosse ruim o texto acrescenta que ele fez “mais do que todos que foram antes dele.” Pode ficar pior? Nesse caso cito a Lei de Murphy ao modo de 1 Reis 16:31, Acabe casou com Jezabel, “foi, e serviu a Baal, e o adorou”!  Deixa eu voltar ao irmão Obadias.
1 Reis 18:3b diz que “Obadias temia muito ao Senhor, (...)”. Minha perguntas são: o que esse camarada fazia ao lado do pecaminoso rei Acabe e o que eu posso aprender com ele?
O nome Obadias é hebraico e significa aquele que adora a Jeová ou adorador de Jeová.
Ele era o mordomo do rei Acabe ou seja era quem administrava toda a casa e os bens do rei ou mesmo do reino. Certamente ele era exemplar em suas atitudes e muito inteligente, o que foi notado por Acabe. Estava durante todo o seu tempo ao lado do rei e também ao lado de Jezabel.
Em 1 Reis 18:2, ressalta o escritor que “a fome era extrema em Samaria” e logo depois apresenta a pessoa de Obadias, testemunhando em seu favor que este “temia muito ao Senhor”. Excelente testemunho, sim? Obadias em sua saída em busca de água e alimento para o gado, sob as ordens do rei, se encontra com Elias em meio ao deserto e pergunta:
- “És tu, meu senhor Elias?” (1 Reis 18:7c)
A voz de Obadias sai trêmula e receosa, mas cheia de respeito e reverência. Com certeza ele sabia quem era o homem de Deus e sabia da intimidade do profeta com o Todo-Poderoso de Israel. Ele estava lá quando Elias decretou, por ordem de Deus, o fechamento dos céus e certamente sabia que Elias por aquelas bandas trazia alguma novidade. O medo de Obadias é transparente porque o profeta do Senhor estava sendo caçado pela milícia fanática de Acabe e Jezabel.
- “Sou eu. Vai e dize a teu senhor: eis que Elias está aqui.” (1 Reis 18:8)
A pressão de Obadias deve ter ido às alturas. Eu enfartaria ali mesmo aos gritos de “Não vou não! Posso não! (sem trocadilhos musicais, por favor!). As palavras subsequentes revelam o porquê de tanto medo em encontrar com Elias (leia 1 Reis 18:9-14). Obadias, obediente e temente, foi e deu o recado do homem de Deus a Acabe:
“Então foi Obadias encontrar-se com Acabe, e lho anunciou; e Acabe foi encontrar-se com Elias” (1 Reis 18:16).
Aqui se encerra nominalmente a participação desse servo de Deus. Mas Obadias não some da história, não. Tenha em mente que ele era o homem de confiança e mordomo de Acabe e onde este estivesse ali também estaria seu servo Obadias. Quero pensar com você em alguns dos preciosos aprendizados que podemos ter com Obadias, na esperança de que eles também promovam e estimulem em nós o sentido de viver unicamente para servir ao verdadeiro Deus e Senhor.
1. Obadias perseverou em seguir ao Senhor
“Todavia eu, teu servo, temo ao Senhor desde a minha mocidade.” 1 Reis 18:12c
“Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele. Provérbios 22:6
Certamente Obadias guardou esse importante preceito dado pelo sábio. Quem sabe tenha sido ensinado desde pequeno por seus pais e parentes próximos ou em suas idas ao templo em Jerusalém para adorar ou quem sabe ainda por um dos antigos profetas de Deus que foram brutalmente assassinados pelo nefasto casal Acabe e Jezabel? Independente de quem foi que o ensinou ou como e onde ele aprendeu, Obadias guardou em seu coração e se dispôs a servir primeiramente a Deus, desde a sua mocidade. Hoje, o que queremos é a curtição, a badalação e as “doces” aventuras que o mundo tem a oferecer; as festas, as bebidas, os manjares e toda a sorte de prazeres que o caminho largo pode dar. Compromisso com Cristo? Deixa pra depois! Deixa pra outra hora! Amanhã, quem sabe? Estou jovem ainda... Obadias foi instruído em vários caminhos: no Caminho de Deus, no caminho da educação, na postura ante as autoridades, foi instruído em como falar, como se vestir, quando se calar. Aprendeu também a respeitar e a agir de acordo com o local em que estava. Ele era um homem sábio! Deus, em Cristo, nos dê sabedoria e nos faça viver em conformidade com a Sua Santa Palavra.
2. Obadias não se esqueceu de quem era o Deus verdadeiro
Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal segui-o.” 1 Reis 18:21
Não obstante estivesse bem no meio dos abomináveis rituais e dos cultos aos deuses pagãos, ele se manteve puro e com a sua fé focada no Deus de Israel. Ele não fugiu e não temeu. Obadias sabia que servia ao Deus verdadeiro, ao Deus que logo em breve responderia com fogo! Provavelmente ele não podia glorificar dentro do palácio real, muito menos levantar as mãos para agradecer ao seu Deus. Obadias dava o seu jeito! Talvez tenha feito algo parecido ao que fez o profeta Daniel no reino do ímpio Nabucodonozor. Dentro do seu quarto escondido e sussurrando com as portas e janelas devidamente trancadas; atrás do pesado guarda-roupas que tinha de ser arrastado todas as vezes que intencionava orar. Talvez ele chegasse perante Acabe e dissesse: “E aí, meu rei! Vou ali negociar com uns viajantes, que estão de passagem, alguns tapetes, tecidos e jóias para sua linda (Cof! Cof!) mulher, Jezabel, belê?”, e nesse caminho de ida e volta, abria seus lábios e baixinho falava palavras em louvor ao Senhor por tê-lo guardado da morte e galgado favor diante de Acabe. Quem sabe suprimido pela presença constante do rei e de sua terrível mulher ele o fazia em completo silêncio, mas em espírito e em verdade. Obadias, era um adorador de Jeová!
“(...) e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. João 4:24
3. Mesmo correndo risco de morte ele trabalhou em prol da Obra de Deus
“Porventura não disseram a meu senhor o que fiz, quando Jezabel matava os profetas do Senhor, como escondi cem dos profetas do Senhor, cinquenta numa cova e cinquenta noutra, e os sustentei com pão e água.” 1 Reis 18:13
Como ele fez isso, eu não sei, mas o que ele fez ficou para sua memória e ele é lembrado por Deus, em Sua Palavra, por essa corajosa atitude. O texto indica que outros sabiam da estratégia de Obadias e o ajudavam. Poderiam ser servos de Obadias na administração do reino, homens escolhidos e conhecidos dele. Importa saber que eles souberam trabalhar em prol da causa de Deus. Obadias, o braço direito do rei, alimentando quem deveria estar morto? Se fosse pego... Não o imagino tirando alimento escondido dentre os manjares reais para dar aos profetas. Quero pensar nele, importante que era, sempre bem servido e farto de alimentos, deixando pra comer depois de todos, afinal estava sempre muito ocupado, inclusive com as despensas e os estoques do rei e da rainha. Imagino-o pedindo um delivery no quarto. Muito alimento sendo trazido pelos seus criados coligados. Se era somente pão e água, haja pão e tome-lhe água pra dentro. Se pão significar qualquer tipo de alimento e assim a Escritura também nos permite pensar em várias passagens, penso que, Obadias saia com uns três ou quatro dos seus, as roupas cuidadosamente costuradas com bolsos e compartimentos secretos e na calada da noite ia repartir com os profetas-tatu, que estavam escondidos em dois buracos. Deixo minha limitada mente ganhar asas... Os restos da comida que eram jogados fora não levantariam suspeitas. Concorda?
- “Joguem lá na naquelas covas, entenderam? Joguem isso bem longe, ouviram? Esses restos não prestam para nada. É rejeito!”
- “Sim, meu senhor Obadias! Faremos tudo para agradar ao nosso senhor (ou SENHOR?)!”
Obadias cuidou e alimentou os homens de Deus jurados de morte por aqueles a quem ele mesmo servia. Sobras de pão, de bolos, de carnes e os restos dos galões de água ou de sucos. O que não servia para os nobres nem para os grandes do palácio servia para os escolhidos de Deus!
“(...) e, chegando-vos para ele, pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa” 1 Pedro 2:4
4. Obadias viu a glória de Deus
Este homem havia ficado calado por tantos anos. Ele se resguardara prudentemente em não glorificar ao Deus de Israel na frente de Acabe ou de adoradores de Baal, espiões de Jezabel, para que não fosse morto. Ele estava com um grito entalado na garganta. O coração ardia por uma oportunidade de fazê-lo e o fez!
O profeta Elias deu uma ordem ao rei Acabe (Ousado esse profeta! Só falava com Acabe dando ordens.) de que este reunisse, num tipo de desafio, os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Asera, como também o povo de Israel, todos lá no Monte Carmelo:
Agora pois manda reunir-se a mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal, e os quatrocentos profetas de Asera, que comem da mesa de Jezabel.” 1 Reis 18:19
O fim dessa disputa conhecemos:
“Sucedeu pois que, sendo já hora de se oferecer o sacrifício da tarde, o profeta Elias se chegou, e disse: Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque, e de Israel, seja manifestado hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme a tua palavra tenho feito todas estas coisas. Responde-me, ó Senhor, responde-me para que este povo conheça que tu, ó Senhor, és Deus, e que tu fizeste voltar o seu coração.
Então caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego. Quando o povo viu isto, prostraram-se todos com o rosto em terra e disseram: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!”
 
1 Reis 18:36-39
 http://personagembiblico.blogspot.com/

Quero retirar a última frase dessa passagem para justificar meu último ponto.
“(...) prostraram-se todos com o rosto em terra”. Eu não estava lá pra ver, mas imagino a cena: o céu se abrindo como se fosse um redemoinho, um barulho ensurdecedor: trovões, relâmpagos e raios num céu sem nuvens, o chamado céu de brigadeiro; talvez a mistura de sons como uma cachoeira estalando sobre as pedras + um estádio completamente lotado gritando gol do meu time + uma imensa cavalaria com seus carros e seus cavaleiros gritando + algumas dezenas de trios elétricos tocando diferentes acordes ao mesmo tempo e no mais alto som possível + carros de fórmula um rasgando seus motores numa longa reta de chegada..., chega? Isso ainda não deve ter sido igual ao que aconteceu lá! Acrescento a isso um clarão maior que a luz de um sol de primeira grandeza, tão ofuscante e capaz de cegar aos desavisados de plantão. A Palavra diz que até as pedras foram consumidas! Como ficar em pé numa cena dessas? Vejo os prostrados a seguir: Elias. Esse já devia ter enterrado o rosto no pó assim que começou a orar. Ele conhecia o Deus que servia; Obadias, idem; talvez de longe os profetas escondidos nas covas viram o clarão, ouviram o barulho e saíram pra ver o que era, se prostraram também, claro!; os oitocentos e cinquenta ensanguentados, frustrados e sentenciados à morte profetas de Baal e Asera e de quebra, o assustado e incrédulo Sr. Acabe “dos Reis de Israel”. Não havia como permanecer em pé ante a majestosa glória do Senhor que desceu naquele lugar. Vejo ainda o servo Obadias com o corpo trêmulo, um sorriso nos lábios, os olhos cheios de lágrimas e o coração pulsando forte completamente prostrado, diante do Seu Deus. Levantou um pouquinho a cabeça, deu uma olhadela para onde antes estava o altar com o sacrifício e não viu nada além de fumaça, inclinou-se de novo ainda dando glórias... Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!
Louvado seja Deus por homens e mulheres que procedem como Obadias e que não se rendem em meio ao mal que os cerca! Sejamos como este servo: obedientes, tementes e prontos para cooperar no Reino de Cristo! Amém!

Vosso irmão,
Carlos Júnior

domingo, 8 de janeiro de 2012

O INÍCIO

Muito prazer, meu nome é Carlos.
Sou irmão de dois, um casal. Ele mais velho que ela e eu mais velho que ambos. Sou o primeiro, mas nem por isso o melhor dentre os filhos. O mais velho de pais humildes e crentes, que me ensinaram crer em Jesus Cristo e a guardar as Sagradas Escrituras e somente nelas confiar, mas nem por isso deixei de vivenciar e provar as coisas que o chamado “mundo” tinha para oferecer. Bom pra mim meus pés estarem firmados na Rocha.
Mas este texto não vai falar de quem eu fui, sou ou pretendo ser. Ele quer falar de amor.
Quero falar de um amor gerado quando eu era ainda menino, quando eu tinha uns doze ou treze anos de idade, novinho demais pra pensar em amor, eu sei. Mas aquele dia...
Desde muito pequeno acompanhava meus pais nas Igrejas evangélicas quando eram convidados a cantar. Igrejas do interior da Bahia ou mesmo fora do nosso Estado. Era mais ou menos assim: meus pais eram convidados para cantar e os filhos iam na bagagem.
Éramos assim apresentados:
- Onde estão os filhos dos cantores? A igreja quer conhecer! Podem ficar de pé? E vinha a musiquinha... “Visitantes, sejam bem-vindos! Sua presença é um prazer...”
Era bem legal, pois éramos como convidados especiais, vistos como uma espécie de visitantes ilustres - uia! Era bom, mas não usava disso para nenhum tipo de proveito, afinal era um menino e não tinha isso no coração. Eu e meu irmão às vezes carregávamos as caixas de som e parte dos aparelhos que o nobre casal usava para a cantoria ou pregação, coisa leve...
O tempo foi passando e em um certo dia eles foram convidados para cantar no aniversário de uma Igreja pequena que havia em nosso bairro. Eu nem sabia que tinha uma igreja lá! Igreja "nome complicado" do Cabula.
Era uma Igreja de uma linha doutrinária bem diferente das que habitualmente meus pais eram convidados e alguns dos moradores e vizinhos que eu conhecia no bairro faziam parte dessa Igreja.
Gente bonita, bem arrumada, muitos cabelinhos lisos, loiros, roupas finas, batons, maquiagem, brincos, senhores, senhoras, rapazes e... garotas!
Garotas, garotas e mais garotas! Lembram-se do que eu disse sobre não usar o fato de ser filho do casal de cantores em benefício próprio? Pois é, já não era mais tão menino assim, esperava que isso contasse ao meu favor e tratei logo de me preparar para o momento em que fosse apresentado nessa Igreja “diferente”. E assim foi...
Quando o pastor anunciou os meus “velhos”, eles se levantaram e saudaram os membros da Igreja, rito este normal que já havia visto centenas de vezes. Mamãe sempre com suas lindas roupas brilhosas e o papai com seu impecável terno. Aí chegou a vez dos filhos do casal. Levantamos eu, meu irmão e minha irmã, olhamos para os irmãos e também saudamos como havíamos feito outras centenas de vezes, só que o meu olhar percorreu e fixou nas lindas garotas - garotas essas que eu tinha visto já na entrada a Igreja antes de começar o culto, que eu não era besta nem nada -  coisinhas lindas de meu Deus de todas as igrejas que eu já tinha passado! Na verdade eram elas que eu queria saudar e dizer:
- Oi? Olha eu aqui! O filho mais velho do casal de cantores! Oi? Com vão vocês? Querem tomar um sorvete? Querem ir ao Shopping Iguatemi? Que tal um Babaloo? Um Ploc dia desses, quem sabe?
Certamente fomos vistos por quase todos os presentes. A Igreja estava alegre com a presença da família convidada para aquela festa, então sentamos no banco onde estávamos. Lembro que sentamos no segundo ou terceiro banco, contando dos fundos para frente do templo ao lado esquerdo de quem entra. E foi aí que meu mundo virou de ponta cabeça!
Meu “culto” estava direcionado desde o início e durante toda a minha permanência naqueles bancos lá da frente, onde umas meninas estavam sentadas. Queria ver se elas tinham me notado, se tinham ouvido meus apelos e convites silenciosos. Acho que elas faziam parte de um grupo vocal, que cantava lá. Eu ainda olhava para frente do Templo ouvindo o que dizia o pastor, quando de repente levanta uma das meninas.
Não era uma menina qualquer! Ela tinha algo de diferente! Ela tinha algo como uma luz, algo como um clarão de raio, estrela e luar... Manhã de sol! Meu iá, meu iô... Ops! Caramba! Isso é Wando, não é? Esse Wando é um poeta!
Aquela manhã de sol (como dizia o poeta) em plena noite ou era uma visão ou era um sonho acordado ou era o quadro vivo mais belo já pintado pelo Grande Pintor! Já falei de amor? Pois é, aquela foi a minha visão do amor e eu só tinha uns doze ou treze anos de idade... Como eu disse: um menino!
O que vi vou descrever tudo no diminutivo pra ficar mais doce: menininha de cabelinhos pretinhos, pelezinha bem branquinha, roupinha lindinha, boquinha perfeitinha com batonzinho discretinho, orelhinha com brinquinho, olhinhos redondinhos... Era um amorzinho! Fiquei tonto com tanta perfeição! Eu não conseguia tirar os olhos daquela coisa linda que instantaneamente encantou o meu coração. Eu não tinha palavras pra dizer o que sentia e só Deus sabe o que senti quando a vi. Ela passou por mim em direção aos fundos da igreja. Eu não quis virar demais o pescoço pra não dar bandeira, mas eu queria fazer isso! Vi somente até que ela passasse por mim. Aquela imagem, aquele rosto não mais saiu da minha mente. Naquele momento alguma coisa, uma certeza, uma voz, não sei dizer, mas algo sussurrou dentro de mim tão forte, tão forte, a ponto de eu nunca esquecer. A voz Daquele que conhece todas as coisas passadas, presentes e futuras sussurrou pra mim essas palavras: Essa será a sua esposa! Terminado o culto, fomos todos para casa, mas a minha mente estava completamente entorpecida por aquela imagem divinamente esculpida. Eu nunca mais a vi!
Muito, muito, muito mesmo tempo depois fui convidado por uns membros dessa Igreja para participar de um dos acampamentos de carnaval. Eu fui, claro! Quem estava lá? Quem? Quem? O “meu iá-iá, meu iô-iô” da canção. Foi o bastante para nos conhecermos e ficarmos amigos e somente amigos. Conheci outras meninas e os rapazes de lá também. Eu já batia os dedos nas cordas do violão e isso era um ponto positivo. Acabei mudando de Igreja. Meu pai me emprestou ao pastor Lucas, que era o pastor nessa época, me emprestou por tempo determinado (o tempo Dele!). Estava presente em todas as Escolas Bíblicas Dominicais. A classe dos professores Jairo e Silvia era massa! Cheia de jovens dispostos, alegres, amigos e solidários. Tinha música, brincadeiras... Isso me atraiu, mas até do que as garotas. Eu fui ficando, ficando e fiquei. Minha adolescência foi envolvida com os jovens dessa igreja. Nesse tempo eu namorei outras meninas de fora da igreja. De lá, nunca namorei uma, nenhuma sequer!
Os jovens sempre frequentavam as casas uns dos outros e isso era muito bom, porque não vivíamos somente com os encontros dominicais e isso nos fazia crescer como amigos e irmãos.
Além do violão eu também aprendi a tocar teclado e ensinava o bê a bá para alguns. Uma das meninas havia comprado um teclado simples e queria aprender a tocar. Esse teclado eu não esqueço, era um Yamaha PSR 310, que tinha som de trem e de galinha e galos cantando em um dos botões de função. O nome da aluna era Juliane, irmã de Luciane e de Cristiane, todas filhas de Eliane, todas amigas minhas da Igreja.
Uma das irmãs de Juliane, Luciane (a mais velha das três) torceu seriamente um dos pés e eu passei algumas vezes a fazer o trabalho de motorista da “madaminha”. Ia eu ensinar Juliane a aprender teclado ao fim da tarde e quando chegava a hora eu pegava o carro da mãe delas e fazia a “coleta da moça com o pé quebrado” na Escola Técnica. Nesse tempo eu namorava outra menina de fora da Igreja, mas fazia esse favor pra uma amiga tão querida; a pegava na Escola, levava pra casa dela e subia as escadas carregando-a nos braços e ela morava no terceiro andar! E você acha que eu ficava cansado? Claro que sim! Mas a “amizade” valia a pena. Eu fazia aquilo pelo carinho e amor que tinha por ela. Eu disse amor?
Em plena Copa do Mundo de 94, fui convidado por minhas grandes amigas Luciane e Juliane (Cristiane era um feto ainda!) pra assistir a alguns dos jogos em sua casa. Romário e Bebeto acabando com os adversários... O Brasil e a Seleção Brasileira eram um coração só! O País em festa! Um coração só foi o saldo dessa Copa. Em meio a um drible e outro, um passe aqui e uma falta ali, bati de frente com a torcedora mais linda que eu já havia visto. Um beijo e estava selada a promessa!
Quando a vi a primeira vez eu ainda era um menino e eu não imaginava que um olhar e um sussurro dentro de mim perduraria por tanto tempo. A promessa Daquele que me disse “essa será a sua esposa” se cumpriu. E hoje ela é a minha esposa, minha mulher e minha amada; mãe dos meus filhos e a quem dedico esta primeira postagem.

A você, Lu, com todo o meu amor!