domingo, 8 de janeiro de 2012

O INÍCIO

Muito prazer, meu nome é Carlos.
Sou irmão de dois, um casal. Ele mais velho que ela e eu mais velho que ambos. Sou o primeiro, mas nem por isso o melhor dentre os filhos. O mais velho de pais humildes e crentes, que me ensinaram crer em Jesus Cristo e a guardar as Sagradas Escrituras e somente nelas confiar, mas nem por isso deixei de vivenciar e provar as coisas que o chamado “mundo” tinha para oferecer. Bom pra mim meus pés estarem firmados na Rocha.
Mas este texto não vai falar de quem eu fui, sou ou pretendo ser. Ele quer falar de amor.
Quero falar de um amor gerado quando eu era ainda menino, quando eu tinha uns doze ou treze anos de idade, novinho demais pra pensar em amor, eu sei. Mas aquele dia...
Desde muito pequeno acompanhava meus pais nas Igrejas evangélicas quando eram convidados a cantar. Igrejas do interior da Bahia ou mesmo fora do nosso Estado. Era mais ou menos assim: meus pais eram convidados para cantar e os filhos iam na bagagem.
Éramos assim apresentados:
- Onde estão os filhos dos cantores? A igreja quer conhecer! Podem ficar de pé? E vinha a musiquinha... “Visitantes, sejam bem-vindos! Sua presença é um prazer...”
Era bem legal, pois éramos como convidados especiais, vistos como uma espécie de visitantes ilustres - uia! Era bom, mas não usava disso para nenhum tipo de proveito, afinal era um menino e não tinha isso no coração. Eu e meu irmão às vezes carregávamos as caixas de som e parte dos aparelhos que o nobre casal usava para a cantoria ou pregação, coisa leve...
O tempo foi passando e em um certo dia eles foram convidados para cantar no aniversário de uma Igreja pequena que havia em nosso bairro. Eu nem sabia que tinha uma igreja lá! Igreja "nome complicado" do Cabula.
Era uma Igreja de uma linha doutrinária bem diferente das que habitualmente meus pais eram convidados e alguns dos moradores e vizinhos que eu conhecia no bairro faziam parte dessa Igreja.
Gente bonita, bem arrumada, muitos cabelinhos lisos, loiros, roupas finas, batons, maquiagem, brincos, senhores, senhoras, rapazes e... garotas!
Garotas, garotas e mais garotas! Lembram-se do que eu disse sobre não usar o fato de ser filho do casal de cantores em benefício próprio? Pois é, já não era mais tão menino assim, esperava que isso contasse ao meu favor e tratei logo de me preparar para o momento em que fosse apresentado nessa Igreja “diferente”. E assim foi...
Quando o pastor anunciou os meus “velhos”, eles se levantaram e saudaram os membros da Igreja, rito este normal que já havia visto centenas de vezes. Mamãe sempre com suas lindas roupas brilhosas e o papai com seu impecável terno. Aí chegou a vez dos filhos do casal. Levantamos eu, meu irmão e minha irmã, olhamos para os irmãos e também saudamos como havíamos feito outras centenas de vezes, só que o meu olhar percorreu e fixou nas lindas garotas - garotas essas que eu tinha visto já na entrada a Igreja antes de começar o culto, que eu não era besta nem nada -  coisinhas lindas de meu Deus de todas as igrejas que eu já tinha passado! Na verdade eram elas que eu queria saudar e dizer:
- Oi? Olha eu aqui! O filho mais velho do casal de cantores! Oi? Com vão vocês? Querem tomar um sorvete? Querem ir ao Shopping Iguatemi? Que tal um Babaloo? Um Ploc dia desses, quem sabe?
Certamente fomos vistos por quase todos os presentes. A Igreja estava alegre com a presença da família convidada para aquela festa, então sentamos no banco onde estávamos. Lembro que sentamos no segundo ou terceiro banco, contando dos fundos para frente do templo ao lado esquerdo de quem entra. E foi aí que meu mundo virou de ponta cabeça!
Meu “culto” estava direcionado desde o início e durante toda a minha permanência naqueles bancos lá da frente, onde umas meninas estavam sentadas. Queria ver se elas tinham me notado, se tinham ouvido meus apelos e convites silenciosos. Acho que elas faziam parte de um grupo vocal, que cantava lá. Eu ainda olhava para frente do Templo ouvindo o que dizia o pastor, quando de repente levanta uma das meninas.
Não era uma menina qualquer! Ela tinha algo de diferente! Ela tinha algo como uma luz, algo como um clarão de raio, estrela e luar... Manhã de sol! Meu iá, meu iô... Ops! Caramba! Isso é Wando, não é? Esse Wando é um poeta!
Aquela manhã de sol (como dizia o poeta) em plena noite ou era uma visão ou era um sonho acordado ou era o quadro vivo mais belo já pintado pelo Grande Pintor! Já falei de amor? Pois é, aquela foi a minha visão do amor e eu só tinha uns doze ou treze anos de idade... Como eu disse: um menino!
O que vi vou descrever tudo no diminutivo pra ficar mais doce: menininha de cabelinhos pretinhos, pelezinha bem branquinha, roupinha lindinha, boquinha perfeitinha com batonzinho discretinho, orelhinha com brinquinho, olhinhos redondinhos... Era um amorzinho! Fiquei tonto com tanta perfeição! Eu não conseguia tirar os olhos daquela coisa linda que instantaneamente encantou o meu coração. Eu não tinha palavras pra dizer o que sentia e só Deus sabe o que senti quando a vi. Ela passou por mim em direção aos fundos da igreja. Eu não quis virar demais o pescoço pra não dar bandeira, mas eu queria fazer isso! Vi somente até que ela passasse por mim. Aquela imagem, aquele rosto não mais saiu da minha mente. Naquele momento alguma coisa, uma certeza, uma voz, não sei dizer, mas algo sussurrou dentro de mim tão forte, tão forte, a ponto de eu nunca esquecer. A voz Daquele que conhece todas as coisas passadas, presentes e futuras sussurrou pra mim essas palavras: Essa será a sua esposa! Terminado o culto, fomos todos para casa, mas a minha mente estava completamente entorpecida por aquela imagem divinamente esculpida. Eu nunca mais a vi!
Muito, muito, muito mesmo tempo depois fui convidado por uns membros dessa Igreja para participar de um dos acampamentos de carnaval. Eu fui, claro! Quem estava lá? Quem? Quem? O “meu iá-iá, meu iô-iô” da canção. Foi o bastante para nos conhecermos e ficarmos amigos e somente amigos. Conheci outras meninas e os rapazes de lá também. Eu já batia os dedos nas cordas do violão e isso era um ponto positivo. Acabei mudando de Igreja. Meu pai me emprestou ao pastor Lucas, que era o pastor nessa época, me emprestou por tempo determinado (o tempo Dele!). Estava presente em todas as Escolas Bíblicas Dominicais. A classe dos professores Jairo e Silvia era massa! Cheia de jovens dispostos, alegres, amigos e solidários. Tinha música, brincadeiras... Isso me atraiu, mas até do que as garotas. Eu fui ficando, ficando e fiquei. Minha adolescência foi envolvida com os jovens dessa igreja. Nesse tempo eu namorei outras meninas de fora da igreja. De lá, nunca namorei uma, nenhuma sequer!
Os jovens sempre frequentavam as casas uns dos outros e isso era muito bom, porque não vivíamos somente com os encontros dominicais e isso nos fazia crescer como amigos e irmãos.
Além do violão eu também aprendi a tocar teclado e ensinava o bê a bá para alguns. Uma das meninas havia comprado um teclado simples e queria aprender a tocar. Esse teclado eu não esqueço, era um Yamaha PSR 310, que tinha som de trem e de galinha e galos cantando em um dos botões de função. O nome da aluna era Juliane, irmã de Luciane e de Cristiane, todas filhas de Eliane, todas amigas minhas da Igreja.
Uma das irmãs de Juliane, Luciane (a mais velha das três) torceu seriamente um dos pés e eu passei algumas vezes a fazer o trabalho de motorista da “madaminha”. Ia eu ensinar Juliane a aprender teclado ao fim da tarde e quando chegava a hora eu pegava o carro da mãe delas e fazia a “coleta da moça com o pé quebrado” na Escola Técnica. Nesse tempo eu namorava outra menina de fora da Igreja, mas fazia esse favor pra uma amiga tão querida; a pegava na Escola, levava pra casa dela e subia as escadas carregando-a nos braços e ela morava no terceiro andar! E você acha que eu ficava cansado? Claro que sim! Mas a “amizade” valia a pena. Eu fazia aquilo pelo carinho e amor que tinha por ela. Eu disse amor?
Em plena Copa do Mundo de 94, fui convidado por minhas grandes amigas Luciane e Juliane (Cristiane era um feto ainda!) pra assistir a alguns dos jogos em sua casa. Romário e Bebeto acabando com os adversários... O Brasil e a Seleção Brasileira eram um coração só! O País em festa! Um coração só foi o saldo dessa Copa. Em meio a um drible e outro, um passe aqui e uma falta ali, bati de frente com a torcedora mais linda que eu já havia visto. Um beijo e estava selada a promessa!
Quando a vi a primeira vez eu ainda era um menino e eu não imaginava que um olhar e um sussurro dentro de mim perduraria por tanto tempo. A promessa Daquele que me disse “essa será a sua esposa” se cumpriu. E hoje ela é a minha esposa, minha mulher e minha amada; mãe dos meus filhos e a quem dedico esta primeira postagem.

A você, Lu, com todo o meu amor!

2 comentários:

  1. Nossa! Que linda história, Inho.
    Que Deus continue a abençoar sua vida assim como fez em "O início", a você e sua família linda.

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  2. O iníciozinho da história eu não peguei, mas o meio e até hoje acompanho... Deus abençoe cada dia mais essa linda família. Beijão!!!! Fernanda Gazar

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