sábado, 11 de fevereiro de 2012

A Bela e a Fera. Uma longa história verídica.

Apesar do título, a minha intenção aqui não será a de “osmosear” o conhecido conto francês originalmente escrito pela Dama de Villeneuve, onde a linda e gentil Bela, filha de um blá, blá, blá, foi aprisionada em um castelo pelo Fera e blá, blá, blá, que se transformou num lindo príncipe desencantado e blá, blá blá, onde o fim óbvio prevaleceu, com uma passagem da Bíblia que conta alguns acontecidos com Davi.
Lendo e estudando as histórias do filho de Jessé, deparei-me com a narrativa bíblica em 1 Samuel 25 e encontrei algumas semelhanças dos fictícios personagens do conto com a de um casal de carne, osso e pescoço.
A bela, diz a verídica, era “sensata e formosa” (1 Samuel 25:3b) e se chamava Abigail, já a fera nominava-se Nabal e a Bíblia diz que este era abestado, digo, abastado e também “duro e maligno nas suas ações” (1 Samuel 25:3c). Além do distinto casal também encontraremos o já citado e conhecido nosso, Davi. Isso mesmo, o rei, e que aqui vai liderando algumas centenas de homens, digamos, problemáticos.
Davi retirou-se dali, e escapou para a caverna de Adulão. O que tendo ouvido seus irmãos e toda a casa de seu pai desceram para lá a ter com ele. E ajuntou-se a ele todo o homem que se achava em aperto, e todo o homem endividado, e todo o homem de espírito desgostoso, e ele se fez capitão deles; e eram com ele uns quatrocentos homens. 1 Samuel 22:1-2
Dá só uma olhada no estado desses “companheiros” de Davi! “Homens-bomba-relógio” prontos para explodir e causar muitos estragos!
Davi e os “bomba” estavam em uma fuga alucinante! O rei Saul estava empreendendo uma verdadeira caçada ao “guerreiro ruivo”. Davi e seus homens fugiam e se escondiam de Saul quando uma frenética perseguição começa sobre as penhas dos montes. Coisa de filme hollywoodiano! O rei Saul com grande exército os perseguia a ponto de os cercarem, não tendo como escapar.
E Saul ia deste lado do monte, e Davi e os seus homens do outro lado do monte; e, temeroso, Davi se apressou a escapar de Saul; Saul, porém, e os seus homens cercaram a Davi e aos seus homens, para lançar mão deles. 1 Samuel 23:19
Mataram Davi e seus homens? Que nada! No meio daquele cerco chegou um mensageiro esbaforido informando que os filisteus estavam com ímpeto invadindo as terras do rei Saul.
Então veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus com ímpeto entraram na terra. Por isso Saul voltou de perseguir a Davi, e foi ao encontro dos filisteus; por esta razão aquele lugar se chamou Rochedo das Divisões. 1 Samuel 23:27-28 (NVI)
O rei então voltou, deixando escapar Davi e seus homens. O futuro rei de Israel tratou de se mandar para os lugares fortes e seguros de En-Gedi (1 Samuel 23:29). En-Gedi é um tipo de oásis, que fica no litoral do Mar Morto. Lugar paradisíaco com rios, cachoeiras, piscinas naturais... Lugar de beleza única. Um hotel ao ar livre para Davi e seus homens descansarem e recuperarem as forças depois de quase terem morrido.
Fonte: google.com.br
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Entretanto essa mordomia durou pouco tempo e Saul já estava de volta à caçada e com sede de morte.
Tendo Saul voltado de perseguir os filisteus, foi-lhe dito: Eis que Davi está no deserto de En-Gedi. Tomando Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o Israel, foi em busca de Davi e dos seus homens até sobre as penhas das cabras monteses. 1 Samuel 24:1-2
Quanta desigualdade! Saul com três mil homens escolhidos dentre todo Israel para fazer um enorme purê de carne de Davi e de seus homens. É o mesmo que usar um par de sandálias Havaianas pra matar uma formiguinha.
É bem verdade que Davi já não era mais uma formiguinha ruiva. O tempo em batalhas, guerras e perseguições devem tê-lo feito um cara forte e capaz de meter medo em muitos. Carregar pesadas espadas e grandes escudos é uma verdadeira malhação! Para conduzir com autoridade homens da linha dos que com ele estavam e ser deles capitão tinha de ser um sujeito barra pesada e troncudo! Sempre que ouvimos falar de Davi o vemos como o eterno garoto franzino e ruivinho que se colocou à frente de Golias. É bom perder essa impressão por aqui.
Chegou a Saul a informação de que Davi e seus homens estavam no refrescante oásis em En-Gedi.
E sucedeu que, voltando Saul de perseguir os filisteus, anunciaram-lhe, dizendo: Eis que Davi está no deserto de En-Gedi. 1 Samuel 24:1
“- Vamos atrás da presa mais uma vez!”
Saul mais três mil homens guerreiros atrás de Davi e um só pensamento o tempo todo: vou fazer purê de Davi! Acho que de tanto pensar no purê de carne humana, o organismo de Saul teve um colapso. 1 Samuel 24:3 relata uma passagem embaraçosamente franca onde o nobre rei perseguidor precisou de uma parada para cumprir um inevitável e inadiável chamado da natureza.
Ele foi aos currais de ovelhas que ficavam junto ao caminho; havia ali uma caverna, e Saul entrou nela para fazer suas necessidades. Davi e seus soldados estavam bem no fundo da caverna. 1 Samuel 24:3 (NVI)
O “universal” Saul foi participar de uma “Sessão do Descarrego” dentro de uma das grandes cavernas locais. Havia e há ainda hoje muitas cavernas naquela região e o rei Saul, a fim de aliviar-se, escolheu logo a caverna onde Davi e seus homens-bomba estavam escondidos mais ao fundo. Esses homens-bomba-relógio vendo o que parecia ser uma oportunidade dada por Deus, incitaram Davi a matar Saul enquanto este descomia.
Então os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia, do qual o SENHOR te diz: Eis que te dou o teu inimigo nas tuas mãos, e far-lhe-ás como te parecer bem aos teus olhos. E levantou-se Davi, e mansamente cortou a orla do manto de Saul. 1 Samuel 24:4
Davi não matou o rei apesar de ter muitos motivos para tal (assumir o reino de Israel era um deles). Ele não levantaria a mão para tirar a vida de Saul sem uma ordem clara do Altíssimo. Não esqueçamos que era o inquieto Saul, mas ele havia sido ungido rei de Israel.
Então Samuel apanhou um jarro de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul e o beijou, dizendo: "O Senhor o tem ungido como líder da herança dele. 1 Samuel 10:1 (NVI)
Deixou, contrariando o pedido dos seus homens, que Saul se fosse da caverna. Davi então fez um pronunciamento fervoroso em seu favor e Saul, reconhecendo que o perseguido lhe poupara a vida, o deixou ir em paz.
Então Davi saiu da caverna e gritou para Saul: "Ó rei, meu senhor!" Quando Saul olhou para trás, Davi inclinou-se, rosto em terra. E depois disse: "Por que o rei dá atenção aos que dizem que eu pretendo lhe fazer mal? Hoje o rei pode ver com os próprios olhos como o Senhor o entregou em minhas mãos na caverna. Alguns insistiram que eu o matasse, mas eu o poupei, pois disse: ‘Não erguerei a mão contra meu senhor, pois ele é o ungido do Senhor’. Olha, meu pai, olha para este pedaço de teu manto em minha mão! Cortei a ponta de teu manto, mas não o matei. Agora entende e reconhece que não sou culpado de fazer o mal ou de rebelar-me. Não lhe fiz mal algum, embora estejas à minha procura para tirar-me a vida. O Senhor julgue entre mim e ti. Vingue ele os males que tens feito contra mim, mas não levantarei a mão contra ti. Como diz o provérbio antigo: ‘Dos ímpios vêm coisas ímpias’; por isso não levantarei a minha mão contra ti". "Contra quem saiu o rei de Israel? A quem está perseguindo? A um cão morto! A uma pulga! O Senhor seja o juiz e nos julgue. Considere ele minha causa e a sustente; que ele me julgue, livrando-me de tuas mãos." 1 Samuel 24:8-15 (NVI). ...foi Saul para sua casa, mas Davi e os seus homens subiram ao lugar forte. 1 Samuel 24:22
1 Samuel 24:22
E foi Saul para sua casa, mas Davi e os seus homens subiram ao lugar forte.
1 Samuel 24:22

1 Samuel 24:22
Tudo certo então? Paz à vista? Aooooonde, amigo! Foi somente uma pausa. Saul, o cabeça dura, voltará a perseguir Davi e os amargurados no capitulo 26 e entre uma perseguição e outra está a história sobre a bela Abigail e a besta-fera Nabal.
O inicio do capítulo 25 fala da morte do homem de Deus e profeta Samuel. Ele foi enterrado e pranteado em Ramá ou Ramataim-Zofim onde nasceu. Davi e seus homens fugiram para o deserto de Parã.
Diz-nos a Escritura que Davi, ainda no deserto, soube que Nabal, homem muito rico, saiu com seus servos para apascentar e tosquiar as ovelhas.
Os “fugitivos” encontraram os servos de Nabal no deserto e iniciaram por conta própria um serviço de segurança privada chamado “DAVIZÃO & OS BOMBA - SEGURANÇA DE OVINOS E CAPRINOS”. Eles até tinham uma logomarca! Achei-a em uns escritos antigos por aí...

Sabemos que o comum e correto é que todo serviço precisa ser concordado pelas partes e não por uma somente, pois Davi fez o incomum e o incorreto! Começou o serviço e esqueceu de avisar ao dono dos bichos, o tal Nabal, que eles estavam fazendo a proteção das ovelhas e dos pastores/tosquiadores lá no deserto.
Convenhamos que o serviço oferecido era um excelente negócio para Nabal. Feras e ladrões deviam ser comuns naquela época. Imagino que ter a Davi, em cujo currículo constava a morte de urso e um leão, ambos com as próprias mãos, mais a morte de um filisteu cabeçudo com uma pedra; somados a isso ainda temos os coligados de Davi: algumas centenas de homens armados e todos vigiando as ovelhas e os empregados do barão bem no tempo da tosquia. Essa proteção era o filé do Carmelo, para não dizer o filé da Bahia. É bom saber que a época da tosquia era de lucro e de muita festa, de hospitalidade e de grandes banquetes.
Davi acertou em cuidar e proteger os animais desse afortunado camarada, pois em troca de toda essa proteção (um exército exclusivo!) bastaria um punhado da deliciosa farinha de Nazaré (nesse caso não é a “das Farinhas”) para a farofa, umas dez ovelhas no espeto temperadas no sal grosso e no alecrim, um barril de água, alguns litros de vinho, uns pães com manteiga e alho e só! Salário pago e estariam quites! Mas não foi isso que ocorreu. Quem disse que Nabal era esse amor de patrão? Mas o presidente da empresa prestadora de serviço, o tal Davizão, não conhecia o cara e não tinha a mínima ideia de quem era a figura. Olha só o naipe do sujeito e faça a conta: pense em homem muito ruim, some a este malignidade em todo o seu trato, multiplique isso a perfeitos 7kg da mais pura tolice, subtraia discretamente o fato dele ser da casa do perseverante irmão Calebe e teremos como resultado um filho de Belial.
(...) e ele é tal filho de Belial, que não há quem lhe possa falar. 1 Samuel 25:17
Belial significa adversário do povo escolhido, aquele que se opõe à luz, ao bem e que não se importa com o Senhor (1 Samuel 2:12), ou seja, filho de Belial, Belialzinho é! E era assim que os próprios servos de Nabal o viam. Tolo ou insensato é o significado do nome Nabal. Acho que num sonho ou numa visão um ser qualquer, envolto numa luz neon roxa disse à mãe desse indivíduo:
Eis que conceberás e darás a luz um bicho ruim que só e porás o nome dele Nabal, porque ele será um tolo ignorante e idiota até o fim dos seus dias. Invencionices 1:2
Que mãe daria um nome desse ao seu filho? Hora de pegar o pagamento pelo serviço.
Davi faminto e vendo seus empregados de igual forma esfomeados, envia uma comitiva de 10 dos seus executivos ao dono dos bichinhos, recomendando-lhes que falem de forma cordial e elogiosa em nome do afamado guerreiro e presidente Davi, o filho de Jessé.
Como recusariam um pedido feito por ele? Quem em Israel não havia ouvido a história daquele que com uma pedra numa funda derrubou e matou o gigante filisteu? Quem é que não soube das proezas de Davi e do canto das mulheres sobre as vitórias dele sobre dez milhares? Quem não sabia que ele seria o próximo rei sobre todo o Israel? Leiamos as doces palavras de Davi a Nabal.
Direis àquele próspero: Paz seja contigo, e tenha paz a tua casa, e tudo o que possuis tenha paz! Tenho ouvido que tens tosquiadores. Os teus pastores estiveram conosco; nenhum agravo lhes fizemos, e de nenhuma coisa sentiram falta todos os dias que estiveram no Carmelo. Pergunta aos teus moços, e eles to dirão; achem mercê, pois, os meus moços na tua presença, porque viemos em boa hora; dá, pois, a teus servos e a Davi, teu filho, qualquer coisa que tiveres à mão. 1 Samuel 25:6-8
As palavras de Davi estão carregadas de paz, cheias de bênçãos (luias!). Ele faz questão de informar do cuidado que teve com os pastores e com as ovelhas e ciente de que era uma boa hora para uma petição se coloca como servo e até como filho e pede “qualquer coisa”. Ele nem especifica o salário! Imagine a fome e o desgaste de Davi e dos seus e como havia entre eles a esperança de uma alimentação farta e diversificada! Se esse diálogo fosse um jogo de voleibol teríamos o “saque viagem” do time de Davi.
Lá se vai a comitiva em viagem andando alguns quilômetros sob o sol pelo deserto ao encontro de Nabal. Olha o diálogo voleibol aí de novo! Nabal recebe o saque viagem, mas recebe muito mal e a bola sobe junto à rede... Acompanhe o jogo!
E Nabal respondeu aos criados de Davi, e disse: Quem é Davi, e quem é o filho de Jessé? Muitos servos há hoje, que fogem ao seu senhor. Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus tosquiadores, e o daria a homens que eu não sei donde vêm? 1 Samuel 25:10-11
O chef Daviêt dour Desertour (fineza fazer biquinho para correta pronúncia, ok?) já havia ligado a churrasqueira e a grelha aquecida já esperava pelas carnes bem temperadas, gordas e suculentas. Lá vem a comitiva de Davi... De mãos vazias?!
- “Cadê a carne? Onde estão as entradinhas? Estão vindo após vocês? Hum? Não? Nem pão com alho ele deu? Mandou pelo menos uns ossos?” Perguntou Davi.
Quando li sobre essa volta de mãos vazias lembrei-me do Incrível Hulk. Pois bem, o humilde, pacífico e abençoador Davi vai nos intrigar e ficar verde de raiva tornando-se algo semelhante ao personagem da Marvel Comics. Palavras de Davi, o Hulk do Deserto:
Pelo que disse Davi aos seus homens: Cada um cinja a sua espada. E cada um cingiu a sua espada, e Davi também cingiu a sua, e subiram após Davi cerca de quatrocentos homens... 1 Samuel 25:13
Ora, Davi tinha dito: Na verdade que em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, de sorte que nada lhe faltou de tudo quanto lhe pertencia; e ele me pagou mal por bem. Assim faça Deus a Davi, e outro tanto, se eu deixar até o amanhecer, de tudo o que pertence a Nabal, um só varão. 1 Samuel 25:21-22
Logo de cara é interessante notar como o mesmo Davi, fujão e manso, que mostrara misericórdia para com Saul quando este estava em suas mãos lá na caverna e declamou aquela tão bela defesa, se transforma agora com um pensamento assassino, frio, irascível e sem piedade alguma para com a casa de Nabal. Ainda bem que Deus estava de olho nos passos e atitudes de Davi!
Um detalhe curioso é que Davi também cingiu a sua espada e essa não era uma espada qualquer. Era a famosa e única “Espada-Arranca-Cabeça-de-Gigante”. É fraca? É leve? É pequena? Será que o rapaz continua franzino? Seria a bagaceira completa na casa de Nabal!
Davi perguntou a Aimeleque: "Você tem uma lança ou uma espada aqui? Não trouxe minha espada nem qualquer outra arma, pois o rei exigiu urgência". O sacerdote respondeu: "A espada de Golias, o filisteu que você matou no vale de Elá, está enrolada num pano atrás do colete sacerdotal. Se quiser, pegue-a; não há nenhuma outra espada". Davi disse: "Não há outra melhor; dê-me essa espada". 1 Samuel 21:8-9 (NVI) Aimeleque consultou o Senhor em favor dele; também lhe deu provisões e a espada de Golias, o filisteu". 1 Samuel 22:10 (NVI)
Fonte: google.com.br
Está acompanhando o jogo ainda? A recepção ruim de Nabal subiu junto à rede, não foi isso? Tal acontece no jogo acontece aqui, pois Davi toma um impulso mortal e sobe com quatrocentos homens pra cortar. Estou falando cortar mesmo, passar a espada, sem analogias! E só pra temperar o massacre que está para acontecer vale lembrar que esses homens estavam em profundo aperto, endividados sem ter como saldar dívidas, com o espírito desgostoso e amargurado, recém caçados e quase mortos pelo exército de Saul, chateados com tudo e com todos e com fome, muita fome. Corre, Nabal!
Não justificaria a mortandade à casa de Nabal pelo simples fato deste não ter dado alimento a Davi e seus homens. Nabal nada acertou com Davi sobre isso. Não havia lei sobre tal procedimento de Davi para com os bens daquele homem, poderia sim, haver um gesto de gratidão espontâneo deste último. Mas Nabal não era um bom homem, como já vimos.
Nesse ponto da narrativa onde o quadro muda temos um personagem coadjuvante, mas de muita importância. No roteiro ele não tem nome, é um jovem servo de Nabal, mas que conhecia muito bem quem era a fera para quem trabalhava. Quando este jovem viu o destratar de Nabal à comitiva de Davi e sabendo ele quem eram aqueles homens e quem era Davi, contemplando a nada discreta “Espada-Arranca-Cabeça-de-Gigante”, entendeu logo que alguma desgraça sem proporções estaria para acontecer. Ele então correu e anunciou o acontecido a Abigail, mulher de Nabal. O jovem servo sabia que bastava dar alguma comida e bebida àqueles homens e os despedir e que eles realmente procederam com bondade para com todos, protegendo-os vinte e quatro horas por dia.
No entanto, aqueles homens foram muito bons para conosco. Não nos maltrataram, e, durante todo o tempo em que estivemos com eles nos campos, nada perdemos. Dia e noite eles eram como um muro ao nosso redor, durante todo o tempo em que estivemos com eles cuidando de nossas ovelhas. 1 Samuel 25:15-16 (NVI)
Contudo ele deve ter notado como o rosto dos enviados por Davi deve ter mudado após a dureza nas palavras de Nabal. Eles já não estavam bem, lembra? Eram guerreiros, eram muito fortes e certamente tinham aquelas assustadoras cicatrizes de batalha por todo o corpo e não deviam ser nada pequenos. Vejamos as palavras desde assustado jovem servo a Abigail:
Considera, pois, agora e vê o que hás de fazer, porque o mal já está de todo determinado contra o nosso amo e contra toda a sua casa; e ele é tal filho de Belial, que não há quem lhe possa falar. 1 Samuel 25:17
Teste Relâmpago
UNIVERSIDADE DA VIDA (UVBA) - Questão 01.
Marque assertiva correta:
Um homem abestalhado destratando homens maus + Davi com sua Super Espada + Homens maus querendo fazer maldade + Nuvem da morte. Todos se aproximando. Se você estivesse em lugar de Abigail, mulher do “doce e meigo” Nabal, você:
A) Sairia (já com roupas de luto) pra procurar seu brinco velho e falsificado que havia caído a uns 2km, lá depois da curva do monte.
B) Tomaria um dopante bem forte e iria dormir no porão da casa (com roupas de luto. claro!).
C) Se colocaria na linha de frente e intercederia chorando aos pés do raivoso Davi por um homem tolo, ignorante, bruto, mal educado, merecedor da morte mais escabrosa e que sempre maltratou os que cuidavam dele.

Certamente a maioria de nós deixaria o pior acontecer, mas não foi assim que pensou esta exemplar mulher. A atitude de Abigail daria pra criar um texto tão grande quanto esse! A alternativa que Abigail escolheu foi a de justamente poupar a vida do seu marido, ainda que fosse ele um Nabal, um tolo! Ela prontamente correu e retirou dos seus depósitos todo alimento necessário para alimentar os homens de Davi. E não era pouca coisa! Com certeza em casa havia muito mantimento. Lembremos que Nabal era um homem muito rico.
Então Abigail se apressou, e tomou duzentos pães, e dois odres de vinho, e cinco ovelhas guisadas, e cinco medidas de trigo tostado, e cem cachos de passas, e duzentas pastas de figos passados, e os pôs sobre jumentos. E disse aos seus moços: Ide adiante de mim, eis que vos seguirei de perto. O que, porém, não declarou a seu marido Nabal. 1 Samuel 25:18 e 19
Que atitude corajosa essa de Abigail! Não é à toa que a Escritura registra um raro elogio chamando-a de sensata e formosa. A sensatez de Abigail é diametralmente oposta à tolice de Nabal. Prudência, ajuizamento, condizente em seus hábitos e condutas são o perfume exalado por essa mulher. Abigail saiu a enfrentar um exército de homens com desejo assassino em seus corações, e assim que se deparou com eles, se inclinou com o rosto em terra perante o líder Davi como demonstração de reverência e respeito.
E sucedeu que, andando ela montada num jumento, desceu pelo encoberto do monte, e eis que Davi e os seus homens lhe vinham ao encontro, e ela encontrou-se com eles. E disse Davi: Na verdade que em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, e nada lhe faltou de tudo quanto tem, e ele me pagou mal por bem. Assim faça Deus aos inimigos de Davi, e outro tanto, se eu deixar até amanhã de tudo o que tem, até mesmo um menino. Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, e desceu do jumento, e prostrou-se sobre o seu rosto diante de Davi, e se inclinou à terra. 1 Samuel 25:20-23
Davi deve ter tomado um susto ao ver aquela linda mulher se atirar em sua frente e de joelhos dirigir-lhe a palavra rogando pela vida do seu marido, que ela mesma chama e reconhece-o como homem vil. Vil é aquele que tem pouco valor, que é barato, mesquinho, miserável, abjeto, canalha e infame!
Ela caiu a seus pés e disse: "Meu senhor, a culpa é toda minha. Por favor, deixa a tua serva lhe falar; ouve o que ela tem a dizer. Meu senhor, não dês atenção àquele homem mau, Nabal. Ele é insensato, conforme o seu nome significa; e a insensatez o acompanha. Contudo, eu, tua serva, não vi os rapazes que meu senhor enviou. "Agora, meu senhor, juro pelo nome do Senhor e por tua vida que foi o Senhor que o impediu de derramar sangue e de vingar-se com tuas próprias mãos. Que teus inimigos e todos os que pretendem fazer-te mal sejam castigados como Nabal. E que este presente que esta tua serva trouxe ao meu senhor seja dado aos homens que o seguem. Esqueça, eu te suplico, a ofensa de tua serva, pois o Senhor certamente fará um reino duradouro para ti, que travas os combates do Senhor. E em toda a tua vida, nenhuma culpa se ache em ti. Mesmo que alguém te persiga para tirar-te a vida, a vida de meu senhor estará firmemente segura como a dos que são protegidos pelo Senhor teu Deus. Mas a vida de teus inimigos será atirada para longe como por uma atiradeira. Quando o Senhor tiver feito a meu senhor todo o bem que prometeu e te tiver nomeado líder sobre Israel, meu senhor não terá no coração o peso de ter derramado sangue desnecessariamente nem de ter feito justiça com as próprias mãos. E, quando o Senhor tiver abençoado a ti, lembra-te de tua serva". 1 Samuel 25:24-31 (NVI)
O discurso de Abigail é algo fantástico! É muito bem tecido, fluente, cheio vida e de esperança e certeza no Senhor Deus. Ela assumiu completamente a culpa pelo ocorrido, referiu-se a Davi como senhor dela, colocando-se em posição de serva, confiou que o Senhor Deus de Israel estava com Davi nas suas batalhas além de reconhecer que Deus faria dele o futuro rei em Israel.
Observemos que ela fez uma previsão sobre Nabal de que este seria castigado por seu ato egoísta e que da mesma forma ocorresse com os inimigos de Davi. Dito e certo! A resposta de Davi mostra por que ele é chamado de “o homem segundo o coração de Deus”.
Ao que Davi disse a Abigail: Bendito seja o Senhor Deus de Israel, que hoje te enviou ao meu encontro! E bendito seja o teu conselho, e bendita sejas tu, que hoje me impediste de derramar sangue, e de vingar-me pela minha própria mão! 1 Samuel 25:32 e 33
O sedento por sangue e vingativo Davi havia sido acalmado pelas sensatas palavras daquela mulher. Ele então aceitou o que Abigail havia trazido, recobrando o ânimo e voltando a ser o pacífico Davi.
Sobe em paz à tua casa; vê que dei ouvidos à tua voz, e aceitei a tua face. 1 Samuel 25:35
Ô, Davi? Esse “aceitei a tua face” está me cheirando a cantada, viu? Mas pudera, Abigail também largou no vento um tal “lembra-te da tua serva”! Não tenho dúvidas de que Abigail sentia que seu marido, pela vida tola e irascível que levava, um dia acabaria sucumbindo a alguém a quem ele destratasse e caso isso ocorresse futuramente, o pedido já estava feito: Não se esqueça de mim, não! Os ares futuros já estavam sendo inalados no presente de ambos...
Abigail voltou para sua casa e Nabal seu marido estava dando um grande banquete, “como banquete de rei” (1 Samuel 25:36b). Que contraste! Não quis dar um pedado de carne para os homens de Davi e faz um banquete enorme pra si no mesmo dia? Ainda acha quem o defenda!
Concluo que apesar da resposta de Nabal aos mensageiros de Davi, quando estes vieram pedir-lhe alguma coisa, era impossível que ele não soubesse quem era ou quem seria Davi em Israel e todos os seus feitos. Abigail não o sabia? Os servos todos não sabiam? Porque Nabal não? O que ele fez foi desdenhar a título de humilhação e maldade e, pelo amor aos bens materiais que possuía, pagará caro. O tesouro de Nabal estava em suas riquezas e bens e ali estava também o seu coração (Mateus 6:21).
Falando em morte, a sujeita de capa preta e foice afiada estava batendo à porta do cara e ele nem sabia. Embriagado depois do banquete, o chefe da casa foi dormir. Abigail nada disse sobre o ocorrido com Davi, mas quando amanheceu e o tolo já estava livre do vinho, sua mulher veio e baixinho cochichou todo o ocorrido. Palavras excessivamente salgadas colocadas em abundância nas veias de um hipertenso em estado crítico.
Sucedeu, pois, que, pela manhã, estando Nabal já livre do vinho, sua mulher lhe contou essas coisas; de modo que o seu coração desfaleceu, e ele ficou como uma pedra. Passados uns dez dias, o Senhor feriu a Nabal, e ele morreu. 1 Samuel 25:37-38
Davi não precisou levantar a mão contra Nabal. O tolo, pela tolice cometida, pagou com a própria vida ao saber do mal que estava para vir sobre ele e que foi aplacado por sua mulher. Penso que Nabal nem precisou escutar toda a história para ter um ataque do coração! Só em saber que um exército de homens fortes e guerreiros, liderados por Davi estava bem próximo, completamente armados e decididos a derramar o sangue dos da sua casa era motivo pra cair duro! Poderia pensar ele: “Não acredito que aquele homem ouviu a voz de Abigail! Essa mulher quase não fala! É certo que voltará e matará todos os da minha casa! Ai!” Ou quem sabe o cara pirou o cabeção porque sua mulher tirara da sua despensa tanto alimento para os esfomeados do deserto (401 homens!) e a raiva foi tamanha que o coração não aguentou e deu um tilt? Se foi esse o caso, mereceu, fominha! Nabal ainda ficou por alguns dias vivo até que morresse. Deus poderia ter ferido mortalmente e instantaneamente, mas não o fez! Como há chance de mudança ainda hoje para tantos outros, Deus, em Sua misericórdia, pode ter oferecido alguma chance a Nabal de arrepender-se por tantos males que havia feito. Quem sabe sua mulher não lhe falou do Senhor Deus de Israel e do quanto Ele amava os que se arrependiam? Quem sabe ele não creu e entregou a vida ao Dono da vida no leito da morte? Quem sabe, hein?
O relato vai se concluindo com Davi tomando Abigail por sua mulher, que não relutou em aceitar ao pedido de casamento apressando-se em ir com ele, deixando para trás toda a fortuna de Nabal, sua própria herança!, para seguir um, até então, errante pelo deserto. Certo que depois veio a se tornar rei e ela rainha em Israel. Bom para ambos e enfim, viveram Davi e Abigail felizes para sempr... nãããããããão! Espera um pouco! Felizes até 1 Samuel 30, quando Abigail é sequestrada em Ziclague juntamente com outros pelos amalequitas, mas Davi, que foi impedido de derramar sangue antes, foi atrás da sua linda mulher e sob a orientação de Deus fez a “Espada-Arranca-Cabeça-de-Gigante” cantar sem dó, se é que vocês me entenderam. Sem dó... Cantar... Notas musicais, sons, sacou? Com Abigail de volta aos seus braços firmaram-se em Hebrom onde foi ungido ali rei sobre a casa de Judá. E assim temos agora a Bela e o Belo, rei e rainha, felizes!
Impossível não extrairmos grandes lições dessa passagem bíblica. Algumas boas, exemplares e imitáveis e algumas outras que sequer devem ser pensadas em ser praticadas.
As maiores lições nós poderemos ver na pessoa sensata de Abigail e elas são incontáveis! A palavra branda que desviou o furor de Davi; o proceder extremamente zeloso e amável para com os da sua casa mesmo com o marido que possuía; a postura inteligente e sábia, que durante anos cuidou e soube controlar as situações em que seu marido certamente se envolveu etc. Releia o texto de 1 Samuel 25 e perceba as diversas qualidades que podem ser extraídas dos "mocinhos".
Vimos também como uma resposta mal dada ou uma atitude egoísta e impensada pode trazer grande desespero e morte. Nabal, por ter um amor idólatra aos seus bens e riquezas sofreu as consequências mortais pelo seu apego e teve um triste fim. Maior amor às coisas que às pessoas sempre terá como resultado solidão e triste morte. A ignorância nas palavras do tolo também o tornava repulsivo aos que com ele andavam, a ponto de seus servos (e até sua mulher!) terem um péssimo conceito dele. Muito provavelmente os empregados cumpriam as ordens mais por respeito e intervenção de Abigail do que pelo próprio Nabal.
É válido salientar que o grande tesouro extraído do texto é o fato de que devemos deixar tudo nas mãos do Senhor Deus, pois Ele é quem sabe o tempo, o propósito, o lugar, o modo e faz tudo para o bem daqueles que O amam. Deus nunca se furtará de abençoar a todos quantos, de coração sincero, viverem na Sua presença e O buscarem de todo o coração, deixando seus problemas e necessidades aos Seus pés, mas também não deixará de condenar e dar a paga a todos quantos se fazem inimigos e constantemente se rebelam contra o Todo-Poderoso.

Porque Dele, e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glórias pois a Ele eternamente. Amém. Romanos 11:36

Em Cristo,

Vosso irmão,

Carlos Júnior

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Entre Elias e Acabe: Obadias, um nobre desconhecido.


“(...); eu, contudo, teu servo, temo ao Senhor desde a minha mocidade.” 1 Reis 18:12c
Entre idas e vindas, leituras e releituras da história do enigmático e porque não dizer também fantástico profeta Elias, o tesbita, deparei-me com um personagem igualmente (desigualdades à parte) fantástico e enigmático chamado Obadias. Se tenho aprendido muita coisa com o famoso profeta, tanto mais tenho aprendido com esse nobre “desconhecido”.
Ele aparece no meio de uma miséria sem precedentes em Israel, em meio a um reinado que nadava em todos os estilos do paganismo e, se não bastasse isso, era também um reinado onde cultuava-se a prostituição e onde brincavam de acha-mata-extermina-destroi os profetas do Senhor! Um mundo cão, posso assim dizer.
Sob o causticante sol, ventilemos um pouco sobre Elias, já deixando ladeado, de novo, o fiel Obadias. Perdão, Obadias!
Em 1 Reis 18, o até então desconhecido morador da região de Gileade, Elias, se apresenta ao rei Acabe e faz uma declaração meteorologia pra lá de ousada! Usei o termo desconhecido porque o cara simplesmente saiu do nada! As Escrituras não relatam nada antes desse aparecimento e quando este homem surge já é, globalmente, com ares de Patrícia Poeta dos tempos bíblicos com a sua previsão pra lá de assustadora! Disse o homem de Deus que não haveria sobre aquela terra nem orvalho, nem chuva por três anos e meio (1 Reis 18:1). Pense agora comigo: Ficar sem água por um dia é uma coisa; sem água por dois ou três dias é dois ou três “coisa”, mas três anos sem água? Dá não! Visione: Lavar talheres e pratos? Neca. Roupas? Neca. Passar um pano na casa? Neca. Beber água deixando derramar pelos cantos da boca? Neca. Lavar o rosto, banhar o corpo descentemente ou escovar os dentes? Eca, eca e mais um eca! Se não bastasse dar o aviso divino, o “proclamador da seca” depois de dado o recado ouviu o seguinte: Suma, Elias! Da mesma forma que surgiu, sumiu!
Foi-se a mando de Deus para Querite e lá ficou. Sob o cuidado do mesmo Deus foi sustentado por corvos e bebeu do riacho que ainda corria por lá (1 Reis 18:6), até que a corrente de água secou, “porque não chovia sobre a terra” (1 Reis 17:7). Será que ele achava que ia se dar bem nessa falta de água? Sobrou também, tesbita!
Deus então ordena que ele saia de Querite e vá para Sarepta (1 Reis 17:9). Eu fui dar uma googlada, procurando o que significa o nome Sarepta e o suor desceu só em ler! Casa de fundição é o seu significado. Era um lugar onde se derretiam metais, um local cheio de fornalhas! Será que o lugar era quente? E com a seca? Sobrou e sobrou forte, tesbita!
No forno de microondas da marca Sarepta Very Hot ele foi sustentado milagrosamente com pão e com água por uma mulher viúva, que morava com seu filho único. Imaginei duas coisas: que o pão se cozia nas mãos mesmo ou mais rapidamente na janela, onde o vento soprava de levinho; o outro pensamento é de que em Sarepta o milagre da transformação era constante, qualquer água nas talhas ou nos copos transformava-se em chá quente! Seriam de lá os gaúchos?! Lá não se usava o termo “cabeça de gelo” ou “fique frio”. Nunca! Acontece aqui o primeiro caso de ressurreição na Bíblia. Pelo que eu já li é isso mesmo! Me ajudem os estudiosos! Curioso, não? Morre, após algum tempo, o filho único desta pobre viúva e Elias clama a Deus para que torne a vida ao menino e assim acontece. Esse Elias tinha intimidade com o Criador e Pai da Vida!
Deus então ordena que Elias se apresente de volta a Acabe para dar-lhe outro aviso meteorológico (1 Reis 18:1) - dá-lhe Elias Poeta. O recado: depois de três anos e meio, daria o Senhor chuva abundante sobre a terra. Está aí a síntese do resumo resumido sobre o conhecido Elias, o profeta de Tesbe de Gileade. Lembrei agora que me propus a falar sobre Obadias e até agora necas, imagine!
Elias, obediente, sai à pé da flamejante Sarepta para se encontrar mais uma vez com o rei Acabe.
Refresquemos (como se fosse possível) o contexto climático naquela terra: três anos e meio sem chuva ou mesmo orvalho à noite, as reservas de água já acabadas ou por acabar; os animais, as crianças, as mulheres e os homens morrendo (e muitos já mortos, certamente). Sem água não há plantação, se não se planta, não se colhe; fome e sede, sede e fome. Vê-se a sequidão e desespero no rosto do poderoso Acabe, rei de Israel.
Precisamos de água! Acabe não confia em nenhum outro homem em seu reino, mas tão somente em Obadias - olha o homem aí! (1 Reis 18:5). Ordena a este a sair pelas terras desérticas à procura de água. Vale salientar que saem o rei e o mordomo Obadias, só (1 Reis 18:6). Quem sabe o rei tenha pensado: Se eu sair com uma comitiva, os espalhar sobre a terra a procurar água e estes acharem qualquer coisa, vão sair em desespero e acabar com o pouco que acharem e nada sobrará! Que nada! Vou sair só para um lado e para o outro vou mandar aquele em quem eu confio e que não vai me trair, o meu fiel servo Obadias! Obadias, onde está você?
Saindo de Samaria seguem o rei Acabe para lado sul e Obadias para lado norte.
Elias vindo de Sarepta, descendo pelo deserto, Obadias subindo pelo mesmo deserto, quando se encontram. Eita susto! Sinta, veja e viaje no calor da situação: no meio do tórrido deserto: o sol; embaixo do sol escaldante: um outro sol; um homem com o corpo cozido: o sol de novo; todo vestido de pelo e couro em brasa: o sol mais uma vez e agora ardendo; a barba grande e desgrenhada brilhando e fumaçando sob o sol; cabelo besuntado de areia e o sol fazendo a escova progressiva: suando toda a água que bebeu em Querite e o sol evaporando essa água; sem Rexona e o sol agravando em muito a situação; soltando mornos bufos de cansaço depois de descer e subir morros e vales acompanhado ainda do sol: rodeando-o o amigo sol; aquele vento quente soprando igual a vapor de ferro de passar... Deus dos céus chuvosos! Vou aqui tomar uma água gelada e volto! Vai amar fazer a vontade de Deus assim, lá em Israel! Agora eu entendi o porquê de Elias estar ao lado de Cristo na transfiguração, só Jesus Cristo para dar alívio aquele profeta! Momento oração sincera: dá ao que escreve e aos que estão lendo este texto esse mesmo ardor por cumprir a Tua perfeita e agradável vontade, Senhor! Se fôssemos como Elias, no cumprir a vontade de Deus, o mundo teria muito mais vidas salvas e sedentas por beber da Água Viva. Você pode dizer Amém? Eu disse, viu? Acho que se eu visse Elias nessas aquecidas condições o confundiria com a sarça ardente e tiraria as sandálias. Fogo puro!
Provavelmente Elias estava também à procura de água, afinal o profeta era de Deus e não Deus! Obadias o vê e o reconhece! Aqui reaparece o homem que me despertou uma atenção especial em toda essa história. Obadias, o servo e mordomo do rei Acabe.
Começando pelo segundo, lê-se em 1 Reis 16:30 que ele fez “o que era mau perante o Senhor, (...)”. Se isto já não fosse ruim o texto acrescenta que ele fez “mais do que todos que foram antes dele.” Pode ficar pior? Nesse caso cito a Lei de Murphy ao modo de 1 Reis 16:31, Acabe casou com Jezabel, “foi, e serviu a Baal, e o adorou”!  Deixa eu voltar ao irmão Obadias.
1 Reis 18:3b diz que “Obadias temia muito ao Senhor, (...)”. Minha perguntas são: o que esse camarada fazia ao lado do pecaminoso rei Acabe e o que eu posso aprender com ele?
O nome Obadias é hebraico e significa aquele que adora a Jeová ou adorador de Jeová.
Ele era o mordomo do rei Acabe ou seja era quem administrava toda a casa e os bens do rei ou mesmo do reino. Certamente ele era exemplar em suas atitudes e muito inteligente, o que foi notado por Acabe. Estava durante todo o seu tempo ao lado do rei e também ao lado de Jezabel.
Em 1 Reis 18:2, ressalta o escritor que “a fome era extrema em Samaria” e logo depois apresenta a pessoa de Obadias, testemunhando em seu favor que este “temia muito ao Senhor”. Excelente testemunho, sim? Obadias em sua saída em busca de água e alimento para o gado, sob as ordens do rei, se encontra com Elias em meio ao deserto e pergunta:
- “És tu, meu senhor Elias?” (1 Reis 18:7c)
A voz de Obadias sai trêmula e receosa, mas cheia de respeito e reverência. Com certeza ele sabia quem era o homem de Deus e sabia da intimidade do profeta com o Todo-Poderoso de Israel. Ele estava lá quando Elias decretou, por ordem de Deus, o fechamento dos céus e certamente sabia que Elias por aquelas bandas trazia alguma novidade. O medo de Obadias é transparente porque o profeta do Senhor estava sendo caçado pela milícia fanática de Acabe e Jezabel.
- “Sou eu. Vai e dize a teu senhor: eis que Elias está aqui.” (1 Reis 18:8)
A pressão de Obadias deve ter ido às alturas. Eu enfartaria ali mesmo aos gritos de “Não vou não! Posso não! (sem trocadilhos musicais, por favor!). As palavras subsequentes revelam o porquê de tanto medo em encontrar com Elias (leia 1 Reis 18:9-14). Obadias, obediente e temente, foi e deu o recado do homem de Deus a Acabe:
“Então foi Obadias encontrar-se com Acabe, e lho anunciou; e Acabe foi encontrar-se com Elias” (1 Reis 18:16).
Aqui se encerra nominalmente a participação desse servo de Deus. Mas Obadias não some da história, não. Tenha em mente que ele era o homem de confiança e mordomo de Acabe e onde este estivesse ali também estaria seu servo Obadias. Quero pensar com você em alguns dos preciosos aprendizados que podemos ter com Obadias, na esperança de que eles também promovam e estimulem em nós o sentido de viver unicamente para servir ao verdadeiro Deus e Senhor.
1. Obadias perseverou em seguir ao Senhor
“Todavia eu, teu servo, temo ao Senhor desde a minha mocidade.” 1 Reis 18:12c
“Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele. Provérbios 22:6
Certamente Obadias guardou esse importante preceito dado pelo sábio. Quem sabe tenha sido ensinado desde pequeno por seus pais e parentes próximos ou em suas idas ao templo em Jerusalém para adorar ou quem sabe ainda por um dos antigos profetas de Deus que foram brutalmente assassinados pelo nefasto casal Acabe e Jezabel? Independente de quem foi que o ensinou ou como e onde ele aprendeu, Obadias guardou em seu coração e se dispôs a servir primeiramente a Deus, desde a sua mocidade. Hoje, o que queremos é a curtição, a badalação e as “doces” aventuras que o mundo tem a oferecer; as festas, as bebidas, os manjares e toda a sorte de prazeres que o caminho largo pode dar. Compromisso com Cristo? Deixa pra depois! Deixa pra outra hora! Amanhã, quem sabe? Estou jovem ainda... Obadias foi instruído em vários caminhos: no Caminho de Deus, no caminho da educação, na postura ante as autoridades, foi instruído em como falar, como se vestir, quando se calar. Aprendeu também a respeitar e a agir de acordo com o local em que estava. Ele era um homem sábio! Deus, em Cristo, nos dê sabedoria e nos faça viver em conformidade com a Sua Santa Palavra.
2. Obadias não se esqueceu de quem era o Deus verdadeiro
Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal segui-o.” 1 Reis 18:21
Não obstante estivesse bem no meio dos abomináveis rituais e dos cultos aos deuses pagãos, ele se manteve puro e com a sua fé focada no Deus de Israel. Ele não fugiu e não temeu. Obadias sabia que servia ao Deus verdadeiro, ao Deus que logo em breve responderia com fogo! Provavelmente ele não podia glorificar dentro do palácio real, muito menos levantar as mãos para agradecer ao seu Deus. Obadias dava o seu jeito! Talvez tenha feito algo parecido ao que fez o profeta Daniel no reino do ímpio Nabucodonozor. Dentro do seu quarto escondido e sussurrando com as portas e janelas devidamente trancadas; atrás do pesado guarda-roupas que tinha de ser arrastado todas as vezes que intencionava orar. Talvez ele chegasse perante Acabe e dissesse: “E aí, meu rei! Vou ali negociar com uns viajantes, que estão de passagem, alguns tapetes, tecidos e jóias para sua linda (Cof! Cof!) mulher, Jezabel, belê?”, e nesse caminho de ida e volta, abria seus lábios e baixinho falava palavras em louvor ao Senhor por tê-lo guardado da morte e galgado favor diante de Acabe. Quem sabe suprimido pela presença constante do rei e de sua terrível mulher ele o fazia em completo silêncio, mas em espírito e em verdade. Obadias, era um adorador de Jeová!
“(...) e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. João 4:24
3. Mesmo correndo risco de morte ele trabalhou em prol da Obra de Deus
“Porventura não disseram a meu senhor o que fiz, quando Jezabel matava os profetas do Senhor, como escondi cem dos profetas do Senhor, cinquenta numa cova e cinquenta noutra, e os sustentei com pão e água.” 1 Reis 18:13
Como ele fez isso, eu não sei, mas o que ele fez ficou para sua memória e ele é lembrado por Deus, em Sua Palavra, por essa corajosa atitude. O texto indica que outros sabiam da estratégia de Obadias e o ajudavam. Poderiam ser servos de Obadias na administração do reino, homens escolhidos e conhecidos dele. Importa saber que eles souberam trabalhar em prol da causa de Deus. Obadias, o braço direito do rei, alimentando quem deveria estar morto? Se fosse pego... Não o imagino tirando alimento escondido dentre os manjares reais para dar aos profetas. Quero pensar nele, importante que era, sempre bem servido e farto de alimentos, deixando pra comer depois de todos, afinal estava sempre muito ocupado, inclusive com as despensas e os estoques do rei e da rainha. Imagino-o pedindo um delivery no quarto. Muito alimento sendo trazido pelos seus criados coligados. Se era somente pão e água, haja pão e tome-lhe água pra dentro. Se pão significar qualquer tipo de alimento e assim a Escritura também nos permite pensar em várias passagens, penso que, Obadias saia com uns três ou quatro dos seus, as roupas cuidadosamente costuradas com bolsos e compartimentos secretos e na calada da noite ia repartir com os profetas-tatu, que estavam escondidos em dois buracos. Deixo minha limitada mente ganhar asas... Os restos da comida que eram jogados fora não levantariam suspeitas. Concorda?
- “Joguem lá na naquelas covas, entenderam? Joguem isso bem longe, ouviram? Esses restos não prestam para nada. É rejeito!”
- “Sim, meu senhor Obadias! Faremos tudo para agradar ao nosso senhor (ou SENHOR?)!”
Obadias cuidou e alimentou os homens de Deus jurados de morte por aqueles a quem ele mesmo servia. Sobras de pão, de bolos, de carnes e os restos dos galões de água ou de sucos. O que não servia para os nobres nem para os grandes do palácio servia para os escolhidos de Deus!
“(...) e, chegando-vos para ele, pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa” 1 Pedro 2:4
4. Obadias viu a glória de Deus
Este homem havia ficado calado por tantos anos. Ele se resguardara prudentemente em não glorificar ao Deus de Israel na frente de Acabe ou de adoradores de Baal, espiões de Jezabel, para que não fosse morto. Ele estava com um grito entalado na garganta. O coração ardia por uma oportunidade de fazê-lo e o fez!
O profeta Elias deu uma ordem ao rei Acabe (Ousado esse profeta! Só falava com Acabe dando ordens.) de que este reunisse, num tipo de desafio, os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas de Asera, como também o povo de Israel, todos lá no Monte Carmelo:
Agora pois manda reunir-se a mim todo o Israel no monte Carmelo, como também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal, e os quatrocentos profetas de Asera, que comem da mesa de Jezabel.” 1 Reis 18:19
O fim dessa disputa conhecemos:
“Sucedeu pois que, sendo já hora de se oferecer o sacrifício da tarde, o profeta Elias se chegou, e disse: Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque, e de Israel, seja manifestado hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme a tua palavra tenho feito todas estas coisas. Responde-me, ó Senhor, responde-me para que este povo conheça que tu, ó Senhor, és Deus, e que tu fizeste voltar o seu coração.
Então caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego. Quando o povo viu isto, prostraram-se todos com o rosto em terra e disseram: O Senhor é Deus! O Senhor é Deus!”
 
1 Reis 18:36-39
 http://personagembiblico.blogspot.com/

Quero retirar a última frase dessa passagem para justificar meu último ponto.
“(...) prostraram-se todos com o rosto em terra”. Eu não estava lá pra ver, mas imagino a cena: o céu se abrindo como se fosse um redemoinho, um barulho ensurdecedor: trovões, relâmpagos e raios num céu sem nuvens, o chamado céu de brigadeiro; talvez a mistura de sons como uma cachoeira estalando sobre as pedras + um estádio completamente lotado gritando gol do meu time + uma imensa cavalaria com seus carros e seus cavaleiros gritando + algumas dezenas de trios elétricos tocando diferentes acordes ao mesmo tempo e no mais alto som possível + carros de fórmula um rasgando seus motores numa longa reta de chegada..., chega? Isso ainda não deve ter sido igual ao que aconteceu lá! Acrescento a isso um clarão maior que a luz de um sol de primeira grandeza, tão ofuscante e capaz de cegar aos desavisados de plantão. A Palavra diz que até as pedras foram consumidas! Como ficar em pé numa cena dessas? Vejo os prostrados a seguir: Elias. Esse já devia ter enterrado o rosto no pó assim que começou a orar. Ele conhecia o Deus que servia; Obadias, idem; talvez de longe os profetas escondidos nas covas viram o clarão, ouviram o barulho e saíram pra ver o que era, se prostraram também, claro!; os oitocentos e cinquenta ensanguentados, frustrados e sentenciados à morte profetas de Baal e Asera e de quebra, o assustado e incrédulo Sr. Acabe “dos Reis de Israel”. Não havia como permanecer em pé ante a majestosa glória do Senhor que desceu naquele lugar. Vejo ainda o servo Obadias com o corpo trêmulo, um sorriso nos lábios, os olhos cheios de lágrimas e o coração pulsando forte completamente prostrado, diante do Seu Deus. Levantou um pouquinho a cabeça, deu uma olhadela para onde antes estava o altar com o sacrifício e não viu nada além de fumaça, inclinou-se de novo ainda dando glórias... Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!
Louvado seja Deus por homens e mulheres que procedem como Obadias e que não se rendem em meio ao mal que os cerca! Sejamos como este servo: obedientes, tementes e prontos para cooperar no Reino de Cristo! Amém!

Vosso irmão,
Carlos Júnior

domingo, 8 de janeiro de 2012

O INÍCIO

Muito prazer, meu nome é Carlos.
Sou irmão de dois, um casal. Ele mais velho que ela e eu mais velho que ambos. Sou o primeiro, mas nem por isso o melhor dentre os filhos. O mais velho de pais humildes e crentes, que me ensinaram crer em Jesus Cristo e a guardar as Sagradas Escrituras e somente nelas confiar, mas nem por isso deixei de vivenciar e provar as coisas que o chamado “mundo” tinha para oferecer. Bom pra mim meus pés estarem firmados na Rocha.
Mas este texto não vai falar de quem eu fui, sou ou pretendo ser. Ele quer falar de amor.
Quero falar de um amor gerado quando eu era ainda menino, quando eu tinha uns doze ou treze anos de idade, novinho demais pra pensar em amor, eu sei. Mas aquele dia...
Desde muito pequeno acompanhava meus pais nas Igrejas evangélicas quando eram convidados a cantar. Igrejas do interior da Bahia ou mesmo fora do nosso Estado. Era mais ou menos assim: meus pais eram convidados para cantar e os filhos iam na bagagem.
Éramos assim apresentados:
- Onde estão os filhos dos cantores? A igreja quer conhecer! Podem ficar de pé? E vinha a musiquinha... “Visitantes, sejam bem-vindos! Sua presença é um prazer...”
Era bem legal, pois éramos como convidados especiais, vistos como uma espécie de visitantes ilustres - uia! Era bom, mas não usava disso para nenhum tipo de proveito, afinal era um menino e não tinha isso no coração. Eu e meu irmão às vezes carregávamos as caixas de som e parte dos aparelhos que o nobre casal usava para a cantoria ou pregação, coisa leve...
O tempo foi passando e em um certo dia eles foram convidados para cantar no aniversário de uma Igreja pequena que havia em nosso bairro. Eu nem sabia que tinha uma igreja lá! Igreja "nome complicado" do Cabula.
Era uma Igreja de uma linha doutrinária bem diferente das que habitualmente meus pais eram convidados e alguns dos moradores e vizinhos que eu conhecia no bairro faziam parte dessa Igreja.
Gente bonita, bem arrumada, muitos cabelinhos lisos, loiros, roupas finas, batons, maquiagem, brincos, senhores, senhoras, rapazes e... garotas!
Garotas, garotas e mais garotas! Lembram-se do que eu disse sobre não usar o fato de ser filho do casal de cantores em benefício próprio? Pois é, já não era mais tão menino assim, esperava que isso contasse ao meu favor e tratei logo de me preparar para o momento em que fosse apresentado nessa Igreja “diferente”. E assim foi...
Quando o pastor anunciou os meus “velhos”, eles se levantaram e saudaram os membros da Igreja, rito este normal que já havia visto centenas de vezes. Mamãe sempre com suas lindas roupas brilhosas e o papai com seu impecável terno. Aí chegou a vez dos filhos do casal. Levantamos eu, meu irmão e minha irmã, olhamos para os irmãos e também saudamos como havíamos feito outras centenas de vezes, só que o meu olhar percorreu e fixou nas lindas garotas - garotas essas que eu tinha visto já na entrada a Igreja antes de começar o culto, que eu não era besta nem nada -  coisinhas lindas de meu Deus de todas as igrejas que eu já tinha passado! Na verdade eram elas que eu queria saudar e dizer:
- Oi? Olha eu aqui! O filho mais velho do casal de cantores! Oi? Com vão vocês? Querem tomar um sorvete? Querem ir ao Shopping Iguatemi? Que tal um Babaloo? Um Ploc dia desses, quem sabe?
Certamente fomos vistos por quase todos os presentes. A Igreja estava alegre com a presença da família convidada para aquela festa, então sentamos no banco onde estávamos. Lembro que sentamos no segundo ou terceiro banco, contando dos fundos para frente do templo ao lado esquerdo de quem entra. E foi aí que meu mundo virou de ponta cabeça!
Meu “culto” estava direcionado desde o início e durante toda a minha permanência naqueles bancos lá da frente, onde umas meninas estavam sentadas. Queria ver se elas tinham me notado, se tinham ouvido meus apelos e convites silenciosos. Acho que elas faziam parte de um grupo vocal, que cantava lá. Eu ainda olhava para frente do Templo ouvindo o que dizia o pastor, quando de repente levanta uma das meninas.
Não era uma menina qualquer! Ela tinha algo de diferente! Ela tinha algo como uma luz, algo como um clarão de raio, estrela e luar... Manhã de sol! Meu iá, meu iô... Ops! Caramba! Isso é Wando, não é? Esse Wando é um poeta!
Aquela manhã de sol (como dizia o poeta) em plena noite ou era uma visão ou era um sonho acordado ou era o quadro vivo mais belo já pintado pelo Grande Pintor! Já falei de amor? Pois é, aquela foi a minha visão do amor e eu só tinha uns doze ou treze anos de idade... Como eu disse: um menino!
O que vi vou descrever tudo no diminutivo pra ficar mais doce: menininha de cabelinhos pretinhos, pelezinha bem branquinha, roupinha lindinha, boquinha perfeitinha com batonzinho discretinho, orelhinha com brinquinho, olhinhos redondinhos... Era um amorzinho! Fiquei tonto com tanta perfeição! Eu não conseguia tirar os olhos daquela coisa linda que instantaneamente encantou o meu coração. Eu não tinha palavras pra dizer o que sentia e só Deus sabe o que senti quando a vi. Ela passou por mim em direção aos fundos da igreja. Eu não quis virar demais o pescoço pra não dar bandeira, mas eu queria fazer isso! Vi somente até que ela passasse por mim. Aquela imagem, aquele rosto não mais saiu da minha mente. Naquele momento alguma coisa, uma certeza, uma voz, não sei dizer, mas algo sussurrou dentro de mim tão forte, tão forte, a ponto de eu nunca esquecer. A voz Daquele que conhece todas as coisas passadas, presentes e futuras sussurrou pra mim essas palavras: Essa será a sua esposa! Terminado o culto, fomos todos para casa, mas a minha mente estava completamente entorpecida por aquela imagem divinamente esculpida. Eu nunca mais a vi!
Muito, muito, muito mesmo tempo depois fui convidado por uns membros dessa Igreja para participar de um dos acampamentos de carnaval. Eu fui, claro! Quem estava lá? Quem? Quem? O “meu iá-iá, meu iô-iô” da canção. Foi o bastante para nos conhecermos e ficarmos amigos e somente amigos. Conheci outras meninas e os rapazes de lá também. Eu já batia os dedos nas cordas do violão e isso era um ponto positivo. Acabei mudando de Igreja. Meu pai me emprestou ao pastor Lucas, que era o pastor nessa época, me emprestou por tempo determinado (o tempo Dele!). Estava presente em todas as Escolas Bíblicas Dominicais. A classe dos professores Jairo e Silvia era massa! Cheia de jovens dispostos, alegres, amigos e solidários. Tinha música, brincadeiras... Isso me atraiu, mas até do que as garotas. Eu fui ficando, ficando e fiquei. Minha adolescência foi envolvida com os jovens dessa igreja. Nesse tempo eu namorei outras meninas de fora da igreja. De lá, nunca namorei uma, nenhuma sequer!
Os jovens sempre frequentavam as casas uns dos outros e isso era muito bom, porque não vivíamos somente com os encontros dominicais e isso nos fazia crescer como amigos e irmãos.
Além do violão eu também aprendi a tocar teclado e ensinava o bê a bá para alguns. Uma das meninas havia comprado um teclado simples e queria aprender a tocar. Esse teclado eu não esqueço, era um Yamaha PSR 310, que tinha som de trem e de galinha e galos cantando em um dos botões de função. O nome da aluna era Juliane, irmã de Luciane e de Cristiane, todas filhas de Eliane, todas amigas minhas da Igreja.
Uma das irmãs de Juliane, Luciane (a mais velha das três) torceu seriamente um dos pés e eu passei algumas vezes a fazer o trabalho de motorista da “madaminha”. Ia eu ensinar Juliane a aprender teclado ao fim da tarde e quando chegava a hora eu pegava o carro da mãe delas e fazia a “coleta da moça com o pé quebrado” na Escola Técnica. Nesse tempo eu namorava outra menina de fora da Igreja, mas fazia esse favor pra uma amiga tão querida; a pegava na Escola, levava pra casa dela e subia as escadas carregando-a nos braços e ela morava no terceiro andar! E você acha que eu ficava cansado? Claro que sim! Mas a “amizade” valia a pena. Eu fazia aquilo pelo carinho e amor que tinha por ela. Eu disse amor?
Em plena Copa do Mundo de 94, fui convidado por minhas grandes amigas Luciane e Juliane (Cristiane era um feto ainda!) pra assistir a alguns dos jogos em sua casa. Romário e Bebeto acabando com os adversários... O Brasil e a Seleção Brasileira eram um coração só! O País em festa! Um coração só foi o saldo dessa Copa. Em meio a um drible e outro, um passe aqui e uma falta ali, bati de frente com a torcedora mais linda que eu já havia visto. Um beijo e estava selada a promessa!
Quando a vi a primeira vez eu ainda era um menino e eu não imaginava que um olhar e um sussurro dentro de mim perduraria por tanto tempo. A promessa Daquele que me disse “essa será a sua esposa” se cumpriu. E hoje ela é a minha esposa, minha mulher e minha amada; mãe dos meus filhos e a quem dedico esta primeira postagem.

A você, Lu, com todo o meu amor!